Evento reunirá representantes de cerca de 130 países para debater a conservação da fauna migratória e o desenvolvimento sustentável no Pantanal.
A 15ª Reunião da Conferência das Partes (COP15) da Convenção sobre a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS) será realizada de 23 a 29 de março de 2026, em Campo Grande (MS). O anúncio foi feito na última quarta-feira (26) pelo governo brasileiro e pelo Secretariado da CMS, e comunicado oficialmente ao Governo do Estado na quinta-feira (27) pelo ministro substituto do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, durante a cerimônia de lançamento do Pacto pelo Pantanal.
Considerado crucial para a proteção global da fauna migratória, o evento reunirá governos, cientistas, povos indígenas, comunidades tradicionais e organizações da sociedade civil. Os debates se concentrarão nos desafios urgentes para a conservação das espécies migratórias e seus habitats, que sofrem com as ameaças decorrentes das atividades humanas e das mudanças climáticas.
Segundo o secretário Jaime Verruck, da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), “essa COP atrai cerca de 130 países e deve reunir de 4 a 5 mil participantes. A indicação do Mato Grosso do Sul para sediar o evento foi baseada nas políticas ambientais consolidadas em nosso estado.”
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou que sediar a COP15 em Campo Grande reforça o compromisso do Brasil com a proteção da biodiversidade. “O Pantanal, um dos biomas mais ricos e vibrantes do mundo, será o cenário ideal para este diálogo internacional sobre conservação e desenvolvimento sustentável”, afirmou. Ela ressaltou ainda que o evento consolidará o protagonismo do Brasil nas discussões ambientais globais, promovendo políticas eficazes para garantir que as futuras gerações possam usufruir da imensa diversidade da natureza brasileira.
O papel do Brasil na proteção das espécies migratórias
Integrante da CMS desde 2015, o Brasil é reconhecido como o país mais biodiverso do mundo, abrigando uma ampla variedade de espécies migratórias, como a onça-pintada, o morcego-de-cauda-livre-mexicano, o falcão-peregrino, além de tubarões, arraias, tartarugas marinhas e baleias. Esses animais dependem dos diversos habitats brasileiros para suas atividades vitais, como reprodução, alimentação e repouso durante suas longas jornadas.
A conservação dessas espécies é fortalecida por meio de uma legislação ambiental rigorosa e de acordos internacionais. As espécies ameaçadas de extinção, listadas no Anexo I da CMS, contam com proteção especial dentro da rede nacional de conservação, reforçada pela cooperação regional promovida pela convenção.
Amy Fraenkel, Secretária Executiva da CMS, ressaltou que “a COP15 em Campo Grande é uma oportunidade para intensificar a cooperação internacional e adotar medidas transformadoras que garantirão o futuro das espécies migratórias e de seus ecossistemas vitais.”
Desafios e expectativas para a COP15
As discussões durante a COP15 devem abordar temas essenciais, como:
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Adoção de compromissos políticos globais que reforcem a proteção das espécies migratórias;
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Inclusão de novas espécies na CMS, ampliando a lista de proteção;
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Fortalecimento de medidas contra a caça e a exploração ilegal;
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Preservação de corredores ecológicos para garantir a conectividade entre habitats;
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Expansão do Plano Estratégico de Samarcanda (2024–2032), avaliando avanços e definindo novas metas;
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Ampliação de iniciativas de conservação, como a CMS Jaguar Initiative;
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Articulação com outras convenções ambientais, como a CITES, a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção de Ramsar.
Criada em 1979, a CMS já conta com 133 países signatários e estabelece uma plataforma global para a conservação de animais migratórios terrestres, aquáticos e aviários. A Conferência das Partes, que ocorre a cada três anos, é o principal fórum para definir políticas e diretrizes de proteção ambiental. A COP14, realizada em fevereiro de 2024, em Samarcanda, Uzbequistão, deixou claro o desafio de proteger espécies que desempenham papéis fundamentais na manutenção da biodiversidade e do equilíbrio ecológico.
A urgência da conservação
As espécies migratórias são essenciais para a polinização, dispersão de sementes, controle de pragas e doenças, e até mesmo para a sustentação de atividades econômicas como o ecoturismo e a pesca sustentável. Contudo, um relatório divulgado na COP14 evidenciou que muitas dessas espécies estão cada vez mais ameaçadas pela superexploração, degradação dos habitats, mudanças climáticas, poluição e invasão de espécies exóticas. Ademais, 399 espécies migratórias ainda não foram listadas nos Anexos da CMS, carecendo de medidas coordenadas de proteção.
A realização da COP15 em Campo Grande promete não apenas reforçar a cooperação internacional, mas também fomentar a implementação de políticas eficazes que assegurem a sobrevivência das espécies migratórias e a preservação de ecossistemas cruciais para o equilíbrio ambiental global.