Em entrevista, o presidente sugere que a inteligência coletiva do povo transforme supermercados em máquinas de desconto – solução infalível, segundo ele
Durante uma entrevista nas rádios Metrópole e Sociedade, na Bahia, o presidente Lula decidiu oferecer uma “solução revolucionária” para a alta dos preços dos alimentos: basta o povo parar de comprar produtos caros. Porque, aparentemente, os supermercados, com toda sua flexibilidade de preços, se curvarão instantaneamente à sabedoria popular se perceberem que ninguém mais quer gastar um tostão a mais.
“Tenho dito que uma das pessoas mais importantes para a gente controlar os preços é o próprio povo. Se você vai num mercado aí em Salvador e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tivesse a consciência e não comprar aquilo que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, senão vai estragar. Isso é da sabedoria do ser humano. Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro”, declarou Lula, como se estivesse revelando um truque de mágica simples e infalível.
É quase comovente a fé cega na capacidade dos consumidores de agir como uma força transformadora do mercado. Esqueça as complexidades da economia, a concorrência acirrada e a dinâmica dos custos – segundo o presidente, basta o cidadão deixar de comprar e, magicamente, os preços cairão. Porque, claro, os supermercados, sempre tão sensíveis aos caprichos do consumidor, vão imediatamente ajustar os preços na mesma proporção da “falta de demanda consciente”.
Enquanto o discurso tenta transformar o povo em heróis da economia, a proposta revela uma ingenuidade quase infantil: como se a simples recusa em adquirir produtos caros fosse um remédio milagroso para a inflação. Resta saber se essa estratégia vai render mais do que boas risadas e críticas severas daqueles que entendem que o ajuste de preços é um processo muito mais complexo do que um boicote coletivo.
Em meio a essa solução “educacional”, a mensagem se espalha com um tom de que a mudança está nas mãos de cada consumidor – e, consequentemente, que a crise será resolvida se o povo aprender a ser mais seletivo no supermercado. Uma proposta que, na prática, exige que os brasileiros abracem uma nova filosofia de consumo quase utópica, enquanto o presidente se mostra otimista sobre o poder de transformação do comportamento coletivo. Afinal, quem precisa de políticas econômicas robustas quando se pode contar com a sabedoria popular para fazer os preços caírem?