A desaceleração da economia nacional nos últimos anos impactou, de modo generalizado, as diversas atividades. O campo não ficou ileso. Dos 26 estados do Brasil, 21 reduziram a quantidade de trabalhadores na área rural na comparação entre o segundo trimestre (abril a junho) deste ano e igual período de 2016, conforme a última PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Dos cinco estados que aumentaram, neste ano, o número de trabalhadores rurais, Mato Grosso do Sul apresenta a maior variação. Esse pequeno grupo é formado das seguintes unidades e respectivos incrementos: Minas Gerais (0,4%), Paraíba (1%), Tocantins (1,6%), Goiás (3,7%) e Mato Grosso do Sul (7,9%).
No segundo trimestre do ano passado, a população ocupada na agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura somava, em Mato Grosso do Sul, 148 mil trabalhadores. Nos mesmos meses de 2017, o número subiu para 160 mil. A alta, de 7,9%, representa acréscimo de 12 mil profissionais na área rural.
Renda – A inserção de novos trabalhadores nos campos sul-mato-grossenses ocorre em momento de expressivo avanço salarial na agropecuária do Estado. No trimestre de abril a junho, o rendimento médio na agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura era de R$ 2.262, o maior valor da série histórica do IBGE. Com relação a igual período de 2016, com renda média de R$ 1.852, o incremento é de 22,1%.
Com a majoração, Mato Grosso do Sul passou do quinto para o segundo lugar no ranking nacional dos maiores salários médios das atividades rurais. Com acréscimo absoluto nominal (sem considerar a inflação) de R$ 410, a renda nos campos sul-mato-grossenses superou as de importantes estados produtores: Rio Grande do Sul, que caiu da primeira para a terceira colocação mesmo com incremento de 9,5% (de R$ 1.926 para R$ 2.109); Mato Grosso, de terceiro para quarto (-4%, de R$ 1.907 para R$ 1.830); e Goiás, de quarto para sexto (-3,8%, de R$ 1.878 para R$ 1.807).
Dos 26 estados brasileiros, apenas São Paulo – que subiu de segundo para primeiro, com incremento na renda de 19,4% (de R$ 1.922 para R$ 2.295) – está à frente de Mato Grosso do Sul. Entre os principais produtores, também avançaram em rendimento médio rural os estados de Santa Catarina (11%, de R$ 1.632 para R$ 1.815) e do Paraná (7,9%, de R$ 1.651 para R$ 1.782).
Outros setores – Na comparação com os demais segmentos do Estado, a agropecuária de Mato Grosso do Sul também apresenta números expressivos. Os outros setores, que se mostram mais vulneráveis aos humores da economia, criaram, em números absolutos, menos postos de trabalho que as atividades rurais.
O segundo melhor resultado foi do setor de alojamento e alimentação, com abertura de 10 mil novos empregos no segundo trimestre deste ano frente a mesmo período de 2016. Na sequência, estão a indústria (7 mil), outros serviços (3 mil), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2 mil) e transporte, armazenagem e correio (1 mil).
Os outros segmentos apresentam retrações: administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-4 mil), construção (-6 mil), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-10 mil) e serviços domésticos (-21 mil).
O rendimento médio da agropecuária teve o segundo maior crescimento absoluto (R$ 410), abaixo do acréscimo verificado na administração pública (R$ 442), mas, em termos relativos, apresentou incremento (22,1%) muito acima dos demais setores.
Com o avanço, a agropecuária passou à frente da indústria (R$ 1.968) em salário médio. Hoje, as atividades do campo estão em quarto lugar, mas têm crescido em ritmo mais acelerado que os demais setores. Os três primeiros são: administração pública (rendimento médio de R$ 3.118), serviços de informação (R$ 2.373) e transporte (R$ 2.303).
Máquina durante colheita de soja em MS ((Foto: João Carlos Castro/Senar-MS)
Desemprego na cidade impulsiona a procura por oportunidades no campo, diz economista
O desemprego nas áreas urbanas, decorrente do desaquecimento da economia, estimula a procura por qualificação profissional para atividades rurais. Essa situação está associada ao desempenho da agropecuária, que se destaca em relação aos demais setores. As observações são do economista Hudson Garcia da Silva.
“Com o arrefecimento da atividade econômica nacional, principalmente, da atividade industrial, os trabalhadores de nível médio desempregados estão buscando alternativas para voltar ao emprego formal, através da realização de cursos profissionalizantes de nível técnico, como operadores de máquinas, implementos agrícolas, técnicos agrícolas, entre outros”, nota o economista, que também é diretor de negócios da Agricon Consultoria.
Essa migração ao campo ocorre em momento em que a agropecuária, impulsionada pelas vendas externas, apresenta números melhores que os demais setores da economia. “É a única atividade que vem mantendo o volume de negócios em decorrência das exportações”, diz o economista.
O incremento de profissionais na área rural não é apenas quantitativa, mas também qualitativa, conforme observa Hudson. Isso impacta sobre os salários.
“O aumento do rendimento dos trabalhadores rurais está ligado à mudança no perfil das pessoas contratadas nos últimos anos”, analisa. “Com o aumento da tecnificação e melhoria dos processos de produção, é cada vez maior a demanda por profissionais com nível técnico e superior para o trabalho no campo”, acrescenta o economista.