Pesquisadores da UC Davis apresentam “Cosmo”, pioneiro na edição genômica para aumentar a eficiência na produção de carne bovina
Cientistas da Universidade da Califórnia, Davis, anunciaram um avanço significativo na engenharia genética aplicada à pecuária com o nascimento de “Cosmo”, um bezerro geneticamente modificado que deverá gerar cerca de 75% de descendentes machos. Utilizando a tecnologia CRISPR, os pesquisadores realizaram a edição do genoma ainda no estágio embrionário, inserindo o gene responsável pela determinação do sexo masculino de forma direcionada.
Durante o processo, a equipe adotou a técnica de knock-in para integrar o gene SRY bovino—normalmente presente no cromossomo Y—ao cromossomo 17 dos embriões. A escolha deste cromossomo ocorreu após tentativas infrutíferas de inserção no cromossomo X, o que inicialmente visava a produção exclusiva de machos. Com essa estratégia, mesmo embriões geneticamente XX que herdarem o gene SRY poderão se desenvolver como machos. Assim, a expectativa é que 50% dos descendentes sejam machos XY (formação natural), 25% sejam machos geneticamente modificados oriundos de embriões XX e os outros 25% continuem sendo fêmeas XX.
Segundo a geneticista animal Alison Van Eenennaam, do Departamento de Ciência Animal da UC Davis, a iniciativa pode revolucionar a pecuária, já que bois são cerca de 15% mais eficientes na conversão de ração em ganho de peso e atingem pesos mais elevados, o que melhora a produtividade e pode reduzir os impactos ambientais. “Com menos animais necessários para alcançar a mesma produção, há uma diminuição na pegada de carbono, o que é benéfico tanto para o setor quanto para o meio ambiente”, afirmou.
O projeto, que contou com o financiamento do Departamento de Agricultura dos EUA, da Estação Experimental Agrícola da Califórnia e da Bolsa de Graduação e Pós-Graduação NIFA National Needs, levou mais de quatro anos de intensas pesquisas. “Demoramos dois anos e meio para desenvolver o método de inserção do gene no embrião e mais dois anos para estabelecer uma gravidez bem-sucedida”, explicou o pesquisador Joey Owen, líder do projeto ao lado de Van Eenennaam. Cosmo nasceu em abril de 2020, pesando cerca de 50 quilos, e os cientistas agora acompanham a evolução do bezerro para verificar se seus descendentes herdarão o gene SRY e desenvolverão características masculinas conforme esperado.
Apesar do entusiasmo científico, o caminho para a aplicação prática dessa tecnologia na produção de alimentos ainda enfrenta desafios regulatórios. Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) trata a edição genética de animais de forma similar à regulação de medicamentos, o que pode retardar ou impedir a utilização de Cosmo e seus descendentes na cadeia produtiva.
Essa pesquisa não só abre novas perspectivas para o controle das características produtivas do gado desde a fase embrionária, mas também sinaliza o início de uma revolução na pecuária, onde a biotecnologia pode desempenhar um papel crucial na melhoria da eficiência e sustentabilidade da produção de carne bovina.